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27 abril 2006

25 de Abril Sempre!

Ora vamos lá ver uma coisa:

Todos os anos, no dia 25 de Abril, comemoramos uma data que ficará sempre na memória de todos os portugueses como um dos dias mais importantes da nossa nação. Tendo a revolução terminado com 48 anos de ditadura e opressão, é de louvar que se aplauda a democracia e tudo o que ela representa.

Tudo? Não nos teremos esquecido de alguma coisa? Será que, com a euforia da liberdade e democracia, com o êxtase provocado pelo fim da repressão, ninguém se lembrou de dizer "Olhem lá, mas não se esqueçam que isto aqui é para ser estimado..."? Ninguém se lembrou de iluminar este "povo de brandos costumes" e de o alertar para o facto de toda a liberdade trazer consigo direitos e deveres?
A mim parece-me cada vez mais evidente que alguém se esqueceu deste ponto fundamental. Louvo a coragem dos Capitães de Abril e ficar-lhes-ei eternamente grata pelos actos que levaram a minha pátria à Democracia. No entanto, acho que ainda não nos apercebemos do grande bem que temos e não lhe conseguimos dar a importância devida.

Hoje vivemos numa sociedade em que os alunos batem nos professores, em que se compram notas nos colégios dos mais ricos. Hoje, a "cunha" serve de rampa de lançamento para colocar alguém desqualificado (mas "filho do papá") num posto de trabalho bem remunerado que seria melhor preenchido por alguém que, apesar de bem qualificado e profissional, está no desemprego. Hoje vivemos uma das piores crises económicas de sempre, mas continuamos a pedir empréstimos milagrosos via telefone para irmos de férias até ao Brasil. Hoje temos deputados que vão à Assembleia da República "picar o ponto" e depois desaparecem, envergonhando os Cidadãos e Contribuintes deste País, que lhes pagam o ordenado e que, se no seu posto de trabalho, faltassem tantas vezes ao ano como os Exmos Srs Deputados, seriam despedidos com justa causa logo no primeiro mês.

Sempre me disseram que o exemplo vem de cima, de quem tem mais poder, autoridade e sabedoria (partindo do princípio de que quem tem mais poder é quem detém mais sabedoria). Pois neste País, o MAU EXEMPLO vem de cima. Também vem de baixo. E dos lados.

Os pais não admitem que se ralhe aos seus meninos; marcar-lhes trabalho de casa afecta-os e prejudica-os psicologicamente; pede-se a existência de "aulas de acompanhamento" nas escolas, simplesmente para que o professor faça aquilo que os pais não querem ou não conseguem fazer: passar tempo de qualidade com os filhos, criar laços, amá-los, educá-los e transmitir-lhes valores que são o fundamento de qualquer sociedade democrática.

Há muitos mais factos que podem ser apontados. Mais do que uma crise económica, financeira ou social, Portugal vive hoje uma crise de VALORES. Uma crise de RESPONSABILIDADE. Não merecerá esta crise que se faça uma nova revolução? Estaremos assim tão cegos, surdos, mudos e imóveis, colados a uma caixa mágica que nos enche de programação barata, pseudo-estrelas, ficções recheadas de lugares-comuns e apelos ao consumo desenfreado ao qual não nos podemos dar ao luxo (a não ser que liguemos para as empresas de créditos milagrosos)?

É com esta sociedade que todos os dias acordo desiludida. É com esta revolução que todas as noites sonho: com a revolução que todos os dias podemos ir fazendo, cada um por si e todos pela Nação, por esse bem inestimável que é Portugal.

E não é assim tão difícil. Nem sequer é caro. Só temos tomar como certa a realidade que nos diz que "a nossa liberdade acaba quando começa a liberdade do outro", interpretá-la como uma dica para que, sem deixarmos de nos respeitar a nós próprios, respeitemos também os que nos rodeiam, em qualquer situação do quotidiano.

Tal como a gaivota, todos somos livres de voar, de crescer, de dizer... de amar. Não vamos agora voltar atrás, ou vamos?

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