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08 fevereiro 2008

Sondagem

No seguimento do último post sobre os Tigões (e também de outro, mais antigo, sobre Ligres), gostaria de saber a vossa opinião acerca da criação deliberada de animais híbridos (destas e de outras espécies) em cativeiro.


Tenho lido com crescente interesse vários artigos acerca de hibridação, mutações genéticas, criação de quimeras e acho algo fascinante a quantidade de argumentos a favor e contra estas práticas em cativeiro e até em laboratório.
Antes de mais, gostaria de deixar claro que sou quase leiga na matéria, percebo o mínimo essencial de genética. Agradeço portanto que me perdoem as falhas científicas e se possível mas indiquem para que as possa corrigir e aumentar o meu conhecimento sobre o assunto.
Colocando de parte as mutações e a realização de pesquisas laboratoriais na área da genética, aqui foco-me essencialmente na existência de 2 animais de géneros e espécies diferentes mas que se sabe serem capazes de se cruzar e obter crias híbridas.
Gostava de saber a vossa opinião sobre a prátic
a de juntar estes animais num espaço comum, tendo como finalidade o acasalamento e obtenção de animais da espécie híbrida.


Têm havido esforços para que a hibridação não seja desenvolvida na maior parte dos Zoológicos, sendo maioritariamente proibida por lei, pelo menos nas sociedades ocidentais. No entanto, ainda há coleccionadores particulares que continuam a cruzar diferentes espécies para obter híbridos exóticos. O mesmo acontece ainda em países onde a política de conservação da vida animal não se encontra muito desenvolvida, tais como a Índia, levando a resultados muitas vezes desastrosos (ler notícia no link).


Se, no seu início, esta prática era simplesmente uma forma de criar animais exóticos para apelar à ida do público ao zoo (o que ainda acontece nos dias de hoje), desde os anos 50 que várias espécies em vias de extinção, incluindo peixes e aves têm vindo a ser cruzadas na esperança de aumentar a biodiversidade e o número de indivíduos de determinada espécie que pode favorecer de alguma forma o ecossistema onde irão ser incluídos.


Enquanto o cruzamento de diferentes espécies de plantas tem tido um enorme sucesso, com a obtenção de plantas híbridas mais fortes e com maior capacidade de sobrevivência, a pesquisa e experiências passadas mostram que a generalidade dos animais híbridos não se consegue fazer sobreviver durante um período satisfatório de tempo. Ou, no caso de o conseguir, tal raramente acontece sem que surjam problemas físicos ou comportamentais no animal.


É portanto essencial introduzir um conceito (mais científico e talvez maltratado pela minha ignorância, vou fazer o meu melhor): Heterose. Este conceito designa as diferenças que o indivíduo fruto de determinado cruzamento vai ter em relação às espécies que lhe deram origem (fala-se em heterose positiva quando essas constituem vantagens e negativas quando são desvantagens). Escusado será dizer que, quanto mais "puras" forem as linhagens de origem e mais diferirem entre si, mais intenso vai ser este fenómeno.
A heterose pode manifestar-se através de uma constituição física mais forte ou débil, maior ou menor resistência imunológica, entre outras características do indivíduo. É comum que o indivíduo híbrido não se consiga reproduzir com outro da mesma espécie (lembremo-nos da mula e do burro), devido a um fenómeno chamado euploidia: aquando da meiose, este animal vai ter um número híbrido de pares de cromossomas, o que dificultará/inviabilizará o seu emparelhamento.

Este palavreado todo serve para salientar a diversidade de prós e contras que este processo envolve: se por um lado podemos obter espécies mais resistentes (como no caso das salamandras híbridas criadas nos EUA, que mostraram maior vigor adaptativo que as suas progenitoras), por outro podemos dar origem a animais que, ou sobrevivem precariamente e são sujeitos a viver doentes e fracos, ou se tornam demasiado fortes e alteram o ecossistema que os rodeia.
É óbvio que a hibridação/hibridização ocorre na natureza e faz parte do processo evolutivo das espécies animais e vegetais.

É cada vez mais comum ouvirmos falar da extinção de espécies e isso deixa o caminho aberto para considerar a hibridação artificial como uma forma de repovoar e reequilibrar ecossistemas.
No entanto, surge aqui a problemática daquilo que o Homem, como ser inteligente, possuidor de conhecimento científico e meios adequados, pode ou não fazer para alterar o curso da evolução.


O ser humano desde sempre gostou de se colocar na posição de Deus, seja para satisfazer a sua curiosidade inata, para mostrar ao "lá de cima" que também consegue criar ou simplesmente para tentar emendar as asneiras que tem feito ao longo da sua permanência no planeta, especialmente nos séculos XIX e XX, com o aumento exponencial da poluição, da caça e da pesca (recreativa ou não) até à extinção de espécies, da desflorestação e destruição de ecossistemas, etc.
Mas teremos autoridade para "ser Deus"? Qual é e qual deverá ser o nosso papel face à evolução natural das espécies, que implica a não sobrevivência dos indivíduos menos adaptados ao ambiente em que se encontram? Poderá o Homem ser um mero espectador e deixar a selecção natural ditar a evolução das espécies ou correrá riscos acrescidos pela sua não actuação sobre estes fenómenos?


Gostava de saber a vossa opinião sobre estes temas. Estou continuamente a formar a minha.

Comentem, acrescentem ideias e votem aqui na coluna ao lado direito.
A votação termina daqui a um mês.

3 comentários:

  1. acho muito bem ois todas as acçoes sao altamente controladas por superiores e sao essas experiencias que nos permite saber mais acerca de uma especie para a poder ajudar.

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  2. não sei se sera totalmente corrcto porque por um lado, estas experiencias ajudar-nos-ao a criar espécies mais adaptadas aos habitats actualmente existentes e as reservas alimentares disponiveis, mas aqui coloco uma questão:
    - será eticamente correcto criar novas espécies para nosso benefício, espécies essas que poderão levar á extinção as actualmente existentes?

    pensem nisto...

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  3. olá eu sou academico de ciencias biologicas, e digo com toda certeza que a hibridaçao nao ocorreria no habitat natural , ou seja, fora de cativeiro.
    pois há inúmeras baterias de estudo, se assim posso dizer, para que esse cruzamento genético possa ocorrer com sucesso.

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