Este blog não é escrito ao abrigo do novo (Des)Acordo Ortográfico!

26 agosto 2010

Os "apuros" de Wolf Mankowitz

Li hoje esta notícia no Público e transcrevo-a aqui porque a achei deliciosa:


O homem que deu vida a Bond foi suspeito de espionagem 

Wolf Mankowitz, primeiro argumentista de “O Agente Secreto 007”, foi seguido pelos serviços secretos britânicos, sob a suspeita de ser um espião soviético, revelam documentos hoje divulgados.


Wolf Mankowitz foi um dos mais destacados argumentistas britânicos das décadas de 50 e 60, mas o mundo em geral, e o universo dos admiradores da série 007 em particular, recorda-o por outra razão. Não só foi o primeiro argumentista, apesar de não creditado, da estreia da série, “O Agente Secreto 007”, e, já creditado, da sátira a Bond “Casino Royale”, como foi o homem que apresentou Harry Saltzman a Albert Broccoli, os produtores que, pouco depois, decidiram avançar com a adaptação ao cinema dos policiais de Ian Fleming. Soube-se agora que, ironicamente, o argumentista de espiões foi espiado durante mais de uma década pelo MI5, o serviço britânico de segurança interna, que desconfiava que o marxista Mankowitz pudesse ser um espião soviético.

Ficheiros do MI5 hoje libertados revelam que chamou a atenção dos serviços secretos em 1944, após o seu casamento com Ann, membro do partido comunista que conhecera enquanto estudante de Inglês em Cambridge. A mudança do casal para Newcastle upon Tyne, onde davam aulas na Worker’s Educational Association, aumentou as suspeitas: “Wolf parece ser, no mínimo, um marxista puro”, lia-se num relatório citado no Guardian.

Na década e meia seguinte, Mankowitz foi seguido de perto. Foi fotografado durante as visitas regulares que fazia ao consulado soviético, enquanto membro da Associação de Amizade Britânico-Soviética, e os seus telefonemas e telegramas foram interceptados. Ainda que nada de relevante tenha resultado das investigações, o MI5 alertou a BBC, enquanto Mankowitz se candidatava várias vezes desde 1951, sem sucesso, a um cargo na estação, para o “perigo” que representaria o seu acesso a informação classificada como secreta.

O interesse no argumentista, que também era proprietário de uma loja de antiguidades em Picadilly, Londres, desvaneceu-se à medida que foi aumentando o seu sucesso, que chegou com o romance “A Kid Of The Farthings”, levado ao cinema por Carol Reed, e se manteve com o argumento do musical “Expresso Bongo”, transformado depois em filme com Cliff Richard no elenco.

Em 1958, Wolf Mankowitz já tinha garantido um programa de entrevistas semanais na ITV. Num deles o entrevistado, o escritor e jornalista Ludovic Kennedy, questionou-o sobre o seu comunismo. A resposta, recorda o Guardian, surgiu rápida: “Não, não sou comunista. Sou um anarquista.”

Levando em consideração o seu “sucesso considerável” e a sua condenação da invasão soviética à Hungria, em 1956, o MI5 decidiu finalmente, década e meia após o início das investigações, que o argumentista não representava qualquer perigo para a segurança nacional britânica. Nessa altura, já Wolf Mankowitz tinha apresentado Harry Saltzman a Albert Broccoli, que o convidaram a escrever o primeiro guião de “O Agente Secreto 007”, projecto que abandonaria por recear um “flop” que arruinasse a sua reputação. Quando reconsiderou e pediu para o seu nome ser novamente creditado no filme, era já tarde demais - as cópias finais estavam prontas.

Wolf Mankowitz morreu em 1998, aos 73 anos, vítima de cancro. Ao saber que o pai tinha sido seguido pelos serviços secretos britânicos, o seu filho, o fotógrafo Gered Mankowitz, declarou ao The Independent: “Não fazia ideia que Wolf tinha sido investigado pelo MI5 e, na verdade, não consigo perceber porque o foi”.

Sem comentários:

Enviar um comentário